Curso Prático de Português, em 20 lições - João Trindade.
EMPREGO DO PONTO E VÍRGULA
São poucas as “regras” relativas ao uso do ponto e vírgula. Na verdade, aprende-se o uso desse sinal praticando a leitura; principalmente a leitura em voz alta.
O ponto e vírgula é uma pausa um pouco longa (maior do que a da vírgula e menor do que a do ponto) e que representa
continuidade de pensamento. Ou seja: você dá uma pausa um tanto longa, mas continua o mesmo pensamento, como no exemplo.
Aqueles que não leem pagam caro, a certa altura da vida; infelizmente, só muito tarde é que vão perceber isso.
O emprego do ponto e vírgula é mais estilístico do que gramatical e seu uso depende, substancialmente, do contexto, não havendo regras infalíveis para todos os casos. Na verdade, a única maneira de aprender a empregar tal sinal é ler muito; sobretudo em voz alta.
Em verdade, usaremos o ponto e vírgula quando fizermos uma pausa longa, mas haja uma continuidade de pensamento. Se a pausa for rápida, usa-se a vírgula; se for longa e encerrar o pensamento, usa-se o ponto.
É possível, no entanto, destacar algumas orientações.
Usa-se o ponto e vírgula:
1. Para separar, num período, orações da mesma natureza, que tenham certa extensão:
“Os dois primeiros alvitres foram desprezados por impraticáveis; Ernesto não tinha dinheiro nem crédito tão alto.
2. Para separar partes de um período já dividido por vírgulas:
“O incêndio é a mais impaciente das catástrofes; a explosão, a mais impulsiva e lacônica; o abalroamento, a mais colérica; a inundação, a mais feminina e majestosa.
3. Para separar os diversos itens de enunciados enumerativos (em leis, decretos, regulamentos, portarias, etc.). Tomemos como exemplo o título I (Dos Princípios Fundamentais) da Constituição da República Federativa do Brasil:
“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e o Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político.
(...).”
EMPREGO DO “DOIS PONTOS”
Os dois pontos indicam, na escrita, uma suspensão da voz na melodia de uma frase não concluída (Celso Cunha – adaptado). Empregam-se para anunciar:
1. Uma citação: Desabafa o homem: “Que sina a minha!”.
2. Uma enumeração explicativa: “De vez em quando, o olhar distraído se fixa num ponto da cidade baixa: as casas vazias, quase destruídas, a estação, o Porto do Capim...”
3. Um esclarecimento, uma síntese ou uma consequência do que foi dito:
Não és apenas uma mulher bonita: és, simplesmente, a mais bela do lugar.
“A morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima.” (Ruy Barbosa, citado por Celso Cunha).
Observação importante:
Depois do vocativo que encabeça cartas, requerimentos, ofícios, etc., costumam-se colocar dois pontos, vírgula ou ponto, havendo alguns que preferem não usar pontuação alguma.
Sendo o vocativo emitido, essencialmente, com entoação suspensiva e levando-se em conta que após ele haverá uma enumeração (na carta, no ofício, no requerimento), nossa posição é que se devem usar dois pontos, como no exemplo:
“Prezado Sr:
Respondendo à consulta que nos foi feita em carta, datada do dia tal (...)”
EMPREGO DO PONTO FINAL
Usa-se o ponto final para denotar uma pausa longa de encerramento de períodos que não sejam exclamativos ou interrogativos diretos:
a) Nunca mais pude esquecer aquela moça.
b) Nunca mais pude esquecer aquela moça, porque ela me feriu profundamente com o seu desprezo.
EMPREGO DO PONTO DE INTERROGAÇÃO
Usa-se o ponto de interrogação:
a) Nas orações interrogativas diretas: Afinal, por que estou triste?
b) Nos diálogos; sozinho ou acompanhado de outro sinal: - Conheceu gente pior do aquele homem?!
EMPREGO DAS RETICÊNCIAS
Usam-se para denotar hesitação, interrupção do pensamento:
“Sei não... sei não... a vida tem sempre razão.” (Vinícius de Moraes)
EMPREGO DO TRAVESSÃO:
Emprega-se o travessão:
1. Para iniciar discurso direto:
- Ele foi à festa?
- Não.
2. Para intercalar elementos. Nesse caso, substitui a vírgula:
Castro Alves – poeta baiano – é uma das glórias do nosso país.
3. Para enfatizar, na frase, um elemento:
Disso não dividem amigos: Ele – desonesto como é – não hesitará em nos enganar.
EMPREGO DAS ASPAS
Usam-se para
a) transcrever expressões (geralmente de outrem): Disse Vandré: “Chico Buarque e Antônio Carlos Jobim merecem nosso respeito.”
b) ressaltar expressões: É preciso destacar que certas “verdades” não devem ser ditas.
c) destacar nomes de publicações: No caderno “Cotidiano”, da “Folha de São Paulo”, encontram-se crônicas de Danuza Leão.
d) destacar gírias: na verdade, ele estava a fim de uma “grana”.
e) expressar pensamento irônico: Aquele “respeitável” governante já fora preso várias vezes.
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Os pronomes oblíquos átonos são:
ME, NOS, TE, VOS, O, A, OS, AS, SE, LHE, LHES
Em relação ao verbo, os pronomes oblíquos átonos podem ocupar três posições:
Podem ficar
antes do verbo (próclise):”Eu te darei o céu...”.
Depois do verbo: Amo-te perdidamente.
No meio do verbo: Amar-te-ei para sempre.
FATORES DE PRÓCLISE
1. Palavras negativas: “
Não me diga adeus agora, meu bem...”
2. Advérbios,
desde que não isolados por vírgula:
a) Agora se arrepende do que fez.
b) Agora, arrepende-se do que fez.
3. Pronomes, de um modo geral*:
a) Esses são os homens que nos assaltaram.
b) Ninguém prestou socorro a ele.
c) Aquilo me fez descrer nele.
OBSERVAÇÃO
Os pronomes pessoais do caso reto (eu,tu,eles,nós,vós,eles) não têm fator; por isso, podem ser usados indistintamente, embora seja preferível a próclise.
Formas corretas:
Eu te adoro.
Eu adoro-te.
4. Conjunções
subordinativas:
“Quando me enamoro/ dou a minha vida/ a quem se enamora de mim...”
Observação:
Nas conjunções coordenativas, não há fator, embora seja preferível a próclise.
Formas corretas:
Ela me desprezou, mas
a admiro.
Ela desprezou-me, mas
admiro-a.
5. Orações exclamativas e optativas (indicam desejo):
Vá embora! (exclamativa).
Deus te proteja! (optativa).
6. Preposição EM + gerúndio:
Em se tratando de futebol, o Flamengo é o mais querido do Brasil.
FATORES DE MESÓCLISE
O pronome oblíquo átono só pode ficar em mesóclise quando o verbo estiver no futuro do presente ou futuro do pretérito,
desde que não haja fator de próclise:
Dar-te-ei um presente.
Dar-te-ia um presente.
Observe:
Nunca te amarei.
Note que nessa frase há o negativo
nunca, que é fator de
próclise; não poderia haver, portanto, a mesóclise.
FATORES DE ÊNCLISE
1.Quando o verbo inicia a oração:
Dei-lhe o bastante para que ele sobrevivesse.
2. Nos imperativos afirmativos:
“Levanta-te e anda!”
Observação:
Nos imperativos negativos, é óbvio que haverá a próclise:
Não se levante!
ATENÇÃO:
De acordo com a norma culta, NÃO SE INICIA FRASE COM PRONOME OBLÍQUO ÁTONO.
Não se pode dizer: “Moça, me espere amanhã...”, mas sim: “Moça, espere-me amanhã”.
USO DO PRONOME OBLÍQUO ÁTONO COM AS FORMAS NOMINAIS
1. verbo auxiliar + infinitivo
Construções possíveis:
a) Devia comportar-me melhor.
v.aux. infin.
b) Devia-me comportar melhor.
c) Não devia comportar-me daquele jeito..
d) Não me devia comportar daquele jeito.
e) Não devia me comportar daquele jeito.
2. verbo auxiliar +gerúndio
Construções possíveis:
a) A tristeza se foi acabando.
b) A tristeza foi-se acabando.
c) A tristeza foi acabando-se.
3. Verbo auxiliar + particípio
Construções possíveis:
a) O alimento se havia acabado.
b) Os alimentos haviam-se acabado.
Observação:
Não se admite ênclise ao particípio:
Os alimentos haviam acabado-se.