O que há por trás do anúncio da saída do DEM e do MDB do Centrão?
Para entender bem esse movimento do xadrez federal é preciso saber que, além do jogo político, existe também o jogo “administrativo.”
Vamos fazer um histórico:
Há um dispositivo regimental na Câmara dos Deputados que geralmente é seguido à risca: a proporcionalidade das bancadas. É o tamanho dos partidos que define quem irá escolher, primeiro, os melhores cargos e espaços da Casa. Logo, os de maior número de parlamentares exercem controle no jogo administrativo. Pelo menos essa é a regra, mas existem exceções.
Uma delas é a que permite partidos se unirem para ganhar tamanho e terem direito aos benefícios da proporcionalidade. Essa união é chamada de ‘bloco parlamentar’. E pode ser apenas temporária.
Foi isso o que uniu, no início da Legislatura, diversos partidos em torno do ‘Centrão’, originalmente formado por PP, PL e PTB, mas que, com o tempo, ganhou a adesão de outros, como DEM e MDB.
A estratégia começou na escolha do presidente da Casa (o DEM não tem a maior bancada) e vinha se estendendo para escolha das comissões temáticas em março que, inclusive, não ocorreram este ano devido a chegada da Covid 19.
Porém, com as sessões virtuais em andamento, o tamanho do bloco ajudava diretamente no resultado das votações.
E como decidiam juntos, estava confortável.
Tudo ia bem até que o líder do bloco, deputado Artur Lira (PP-AL), fez uma jogada no tabuleiro em direção favorável ao Planalto.
Percebeu-se um alinhamento com o Governo para ajuda mútua: nada melhor do que verbas federais para cidades em ano de eleições municipais.
Em troca, estabilidade e apoio para o Governo no Congresso.
Isso deixou os partidos que passaram a integrar o bloco numa situação de extremo desconforto. Primeiro, porque não foi devidamente combinado e, segundo,porque isso não iria encerrar a queda de braço entre o presidente da República e o da Câmara, que sempre existiu.
Era preciso focar no jogo.
E logo se percebeu o perigo maior: o líder do bloco e do PP, passou a exercer, também, uma liderança parda do Governo na Câmara e o passo seguinte seria uma investida para arrematar a presidência das mãos do grupo de Rodrigo Maia. Estava em curso uma tentativa de ‘xeque-mate’.
Agora era preciso se defender. E o vídeo do líder do DEM, Efraim Filho, foi o ‘Roque’, movimento no xadrez que permite defender o Rei e armar um contra ataque. Ele justificou a saída do ‘centrão’ falando da “necessidade de se manter autonomia e independência no Congresso”.
Porém foi muito mais do que isso: o movimento do DEM e do MDB diminuiu o tamanho do Centrão, equilibrando a proporcionalidade, pois eles migraram para outro grupo de partidos, pequenos e médios, com viés de independência e, de quebra, embaralharam o jogo administrativo: agora, ambos os grupos tem o mesmo tamanho, cerca de 150 deputados.
Efraim jura que essa não foi a causa, mas confessa que sabia do “efeito colateral”. Que comecem os jogos!